Por Nátsan Matias
Neste post você vai aprender como analisar um filme, seus pressupostos e mensagens. O objetivo é verificar como podemos entender as influencias da comunicação por meio do entretenimento.
O filme de hoje é BRAVURA INDÔMITA (TRUE GRIT) Vamos lá?
O filme
conta história de uma menina em busca de justiça contra o assassino de seu pai,
morto de modo covarde por um ladrão de cavalos. Trata-se do décimo quinto filme
dirigido pelos irmãos Coen ( Joel e Ethan). Os irmãos Coen não apenas
dirigiram, mas também adaptaram, para o cinema, o romance de Charles Portis,
que já havia sido adaptado em 1969, apenas um ano depois do lançamento do
livro, com o mesmo nome (True Grit – Coragem Verdadeira ou Verdadeiro
Sofrimento), assim como na refilmagem de 2010.
No Brasil foi lançado com o título “Bravura Indômita”.
Judeus, os irmãos Coen, primam pela grandiosidade das
cenas e fotografias perfeitas, que valorizam um belo mundo criado por Deus. São
responsáveis ainda pelo roteiro e direção do premiado “Onde os fracos não tem
Vez (No country for old men)”, ganhador de quatro estatuetas do Oscar. Há
outros filmes dirigidos pelos irmãos
Coen que destacam uma tendência para histórias de perseguições em busca de
justiça, por longos trechos. Além dos títulos já destacados acima, verificamos
essa mesma vertente também em “Fargo”, cujo roteiro conta história de uma
policial que persegue, insistentemente um assassino, até que o encontra.
O filme, base de nossa análise, se passa em 1878 no contexto do pós-guerra civil
americana. A escravidão havia sido
abolida, mas ainda não totalmente
assimilada, como se pode ver numa cena do filme, quando um garoto negro afirma
para protagonista que a ele não é permitido pronunciar o nome dela ao seu
patrão.
Trata-se
ainda de uma beleza narrativa cativante, desde as suas primeiras cenas. A
personagem principal, a menina Mattie Ross,
consegue imprimir ao espectador a força de um objetivo resoluto.
1.
CRIAÇÃO,
QUEDA E REDENÇÃO
Quando colocamos o “gabarito” da Criação-Queda-Redenção
sobre esse filme, como na maioria de outros filmes, poderemos perceber de que maneira esse padrão de análise nos auxilia
na percepção de pontos interessantes, que podem ser extraídos a fim de que
tenhamos a capacidade de perceber a “teo-referência” impressa no objeto de
pesquisa, nas suas duas vertentes, tanto positiva (criação e redenção) como
negativa (queda).
No meu curso de mestrado, especificamente no módulo chamado: “Hermenêutica Cultural e Ministério Pastoral”[1], ficou claro que esse “gabarito” nem sempre
está muito bem desenhado e separado, mas - não raramente, os aspectos do
referido esquema estão mesclado em muitas ocasiões, apesar de que em outros momentos os
elementos da "grade" estão bem definidos.
1.1. Aspectos
Relacionados com Criação
As cenas
iniciais do filme são precedidas pela citação bíblica: “Os ímpios fogem sem que
haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.” (Pv.
28.1). Certamente que a referência bíblica em questão, dá o tom do enredo do
filme que, como destacado nos primeiros parágrafos, tem sua temática na busca implacável
e determinada de um criminoso fugitivo e, evidentemente, traz valor ao
livro sagrado do cristianismo que é a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. De fato, como destaca o
versículo, se verá em todo filme uma forte ênfase na necessidade de que seja aplicada a justiça. Essa é uma característica da
criação, pois desde a origem do homem, a voz do Deus Justo, ecoa dentro
do coração humano, ainda que, não raramente, ele (o homem) prefira tentar calar essa
necessidade de adequar-se àquilo que é correto.
O mal jamais poderá triunfar sem a devida punição, essa é uma máxima que
nos remete à criação, ou seja: aquilo que é justo sempre vencerá no final, mesmo que seja somente no final escatológico, mas triunfará sempre.
Os
aspectos da necessidade de valorizar o que é justo, também promove uma dimensão
da solidariedade de vários personagens do filme, o que destaca o sentimento de
coletividade e de sociedade, que se une em busca de um propósito. Ainda que não
diretamente relacionada ao grupo, mas àquela que consegue transmitir aos
demais, que a causa dela poderia se a causa de qualquer pessoa.
Outro
ponto no qual se pode perceber um reflexo da criação, são as regras que
intrinsecamente são evidenciadas. Tais regulamentos são trincheiras que evitam
o caos em detrimento da ordem, esse último estabelecido por Deus, na criação.
Mesmo o mal precisa de limites e de regras que são impostos soberanamente por Deus. A busca pela justiça, carece de
preceitos implantados no coração e na mente humana, mesmo quando essa mente deseja ver
o mal punido a qualquer custo. Isso se percebe no filme, quando: a) a pequena
justiceira tem o firme propósito de trazer o assassino para ser julgado (a
princípio, porque depois de perceber que havia uma disputa acerca de qual tribunal
deveria julgá-lo, prefere ela mesma aplicar a justiça); b) para dar início à
“caçada”, ela procura a ajuda da lei instituída e não de pessoas fora-da-lei;
c) apesar de seu desejo de justiça, ela não considera justo que se atire numa
pessoa pelas costas.
Podemos
destacar, ainda, como retrato da Criação:
o forte elo familiar, que dá luz ao mandamento de honrar os pais – mesmo
depois de mortos; a fé no cuidado de Deus, que a faz crer no alcance de seus
objetivos e, ainda, o desejo de ver o bem do outro, mesmo que isso signifique
sacrifício pessoal.
Além disso o filme destaca, de maneira
fotográfica, belas paisagens, rios, montanhas e vales que enchem os olhos com a
beleza da criação, embaladas, ao fundo, por lindos instrumentais de hinos
cristãos tradicionais.
1.2. Aspectos
Relacionados à Queda
A marca
da queda é tangível na película em questão, que se opõem diretamente à ordem da
criação, demonstrando o caos da derrota humana, frente a sua depravação total.
A
contraproposta da justiça pura é
apresentada pelos retratos de covardia. Gente que mata outros por
conta de poucos valores; que visa o lucro acima de tudo. Tome por exemplo no filme, o
comerciante de cavalos que não se importa com a perda do outro e do “agente” da
lei, que se interessa em capturar o criminoso, apenas se for pago para isso.
O senso
de desagregação pode ser encontrado na história, e sua raiz se encontra no orgulho humano, comprometido apenas consigo mesmo.
Apesar
da boa intensão da protagonista em fazer justiça, ficaremos com a sensação de
que ela traz preocupação para sua mãe, quando desobedecendo não retorna para casa, junto com o corpo do pai.
A queda
também alimenta o ódio que, por sua vez, deseja vingança a qualquer preço,
tratando pessoas como se fossem mercadorias, com as quais se pode obter algum
lucro. O filme ilustra esse ponto de vista por exemplo, quando o corpo de um
homem enforcado é solicitado por um índio, para que ele possa conseguir algum
dinheiro com o corpo, mas logo em seguida esse mesmo índio entrega o tal
morto para um “dentista", em troca de algumas panelas e espelhos. O dentista,
por sua vez, irá vender os dentes do morto e o resto pretende entregar para a
lei em troca de alguma recompensa. É de fato uma ilustração de que o homem é profundamente comprometido com a queda.
No fim
do filme, agora já mulher adulta, Mattie Ross demonstra ser uma pessoa muito
rancorosa e orgulhosa. Ela chama de “lixo” um homem que não fica em pé para
recebê-la e essa linguagem, dá ao espectador uma impressão de que ela tem uma
imagem distorcida de si mesma, em relação aos outros.
1.3. Aspectos
relacionados à Redenção
A frase
que faz brilhar o conceito de Redenção no filme é a seguinte: “Não há nada de
graça, a não ser o amor de Deus”. Por
este prisma é que podemos vislumbrar a imagem da Redenção, no enredo da
história em questão.
Graça e
perdão permeiam a narrativa. Essa graça
de Deus é que, em determinadas cenas, apresentam transformações pontuais, quase
que imperceptíveis quando não se tem o prisma bíblico para assistir o filme.
Essa graça é aquilo que faz com que um condenado, antes de ser enforcado,
confesse seus erros e diz o porquê está à sombra do cadafalso. Ele avisa as
testemunhas de seu enforcamento, que evitem os seus passos equivocados para não
terem o mesmo trágico fim.
Noutra
cena, depois de ser ferido mortalmente, um rapaz à beira da morte, também
demonstra arrependimento, pedindo que avise o irmão, um pastor metodista, que
eles se encontrarão na morada celeste. Graça redentora!
O amor
também, de modo redentivo, pode ser percebido na misericórdia que a
protagonista ainda consegue demonstrar por malfeitores, pedindo que os corpos
deles sejam sepultados. Além do que,
sempre que há uma desavença envolvendo os dois homens que a acompanham, ela se
coloca como apaziguadora, a fim de mantê-los unidos, sabendo que precisam uns
dos outros.
A
redenção leva a reconciliação e isso é o que, no fim das contas ocorre para os
três principais personagens do filme.
2.
METANARRATIVA
A
impressão dos irmãos Coen, na adaptação do roteiro para o cinema, retrata com
precisão e arte a saga de uma pessoa, aparentemente, incapaz de conseguir o seu
feito, por diversos fatores, representados pela figura de uma menina,
adolescente e frágil.
Apesar
de declararem que: “Tentamos em nossa versão ser totalmente fiéis ao ponto de
vista de Mattie...”[2], sabemos que é impossível
ser “totalmente” neutro na interpretação de qualquer obra. Assim, considerando
que os irmãos Coen - judeus, e o
produtor, Steve Spilberg, também judeu, certamente foram atraídos para
adaptação do livro de Charles Portis para o cinema, por conta da bravura e
persistência de uma menina, que pode representar um grupo minoritário, em busca
de justiça com muita resistência contra tudo e contra todos os obstáculos
possíveis. Os diretores, possivelmente, olham para o livro com a perspectiva de
um povo, que precisou de muita resistência para vencer seus carrascos na
segunda guerra mundial, como foi o povo judeu.
Para o
autor, não há esse olhar étnico, mas sim o desejo de inspirar os leitores para
vencer suas limitações a fim alcançarem objetivos considerados impossíveis. Por
certo que um leitor, passando por lutas e determinadas injustiças que possa
enfrentar, terá a oportunidade de ver na pequena Mattie Ross, um inspiração
para persistir e vencer.
3.
CONCLUSÃO
Como podemos usar esse filme para
evangelização? Não há uma reposta dogmática para essa questão, mas podemos ver
o filme sob o olhar da perseverança.
Sem querer forçar de modo a buscar
doutrinas no filme, podemos comparar a nossa caminhada cristã contra o pecado e
contra o inimigo de nossas almas, lançando mão da persistência e da dependência
de Deus. Sabendo que, nessa jornada
ferrenha, poderemos perder algumas coisas (como determinadas perdas da protagonista em sua jornada), mas certamente seremos vencedores, se estivermos com a
companhia correta, no caso a força do Senhor e de nossos irmãos de caminhada.
[1]
Módulo do Dr. Emílio Garófalo Neto, componente da área de Missões
Urbanas, do Mestrado em divindade do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper.

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