quarta-feira, 22 de abril de 2015

BRAVURA INDÔMITA - APRENDENDO COM OS FILMES (EXEGESE CULTURAL)

Por Nátsan Matias
Neste post você vai aprender como analisar um filme, seus pressupostos e mensagens. O objetivo é verificar como podemos entender as influencias da comunicação por meio do entretenimento. 
O filme de hoje é BRAVURA INDÔMITA (TRUE GRIT) Vamos lá? 
O filme conta história de uma menina em busca de justiça contra o assassino de seu pai, morto de modo covarde por um ladrão de cavalos. Trata-se do décimo quinto filme dirigido pelos irmãos Coen ( Joel e Ethan). Os irmãos Coen não apenas dirigiram, mas também adaptaram, para o cinema, o romance de Charles Portis, que já havia sido adaptado em 1969, apenas um ano depois do lançamento do livro, com o mesmo nome (True Grit – Coragem Verdadeira ou Verdadeiro Sofrimento), assim como na refilmagem de 2010.  No Brasil foi lançado com o título “Bravura Indômita”.
            Judeus, os irmãos Coen, primam pela grandiosidade das cenas e fotografias perfeitas, que valorizam um belo mundo criado por Deus. São responsáveis ainda pelo roteiro e direção do premiado “Onde os fracos não tem Vez (No country for old men)”, ganhador de quatro estatuetas do Oscar. Há outros filmes  dirigidos pelos irmãos Coen que destacam uma tendência para histórias de perseguições em busca de justiça, por longos trechos. Além dos títulos já destacados acima, verificamos essa mesma vertente também em “Fargo”, cujo roteiro conta história de uma policial que persegue, insistentemente um assassino, até que o encontra.
            O filme, base de nossa análise, se passa em 1878  no contexto do pós-guerra civil americana.  A escravidão havia sido abolida, mas ainda  não totalmente assimilada, como se pode ver numa cena do filme, quando um garoto negro afirma para protagonista que a ele não é permitido pronunciar o nome dela ao seu patrão.
Trata-se ainda de uma beleza narrativa cativante, desde as suas primeiras cenas. A personagem principal, a menina Mattie Ross,  consegue imprimir ao espectador a força de um objetivo resoluto.

1.     CRIAÇÃO, QUEDA E REDENÇÃO
            Quando colocamos o “gabarito” da Criação-Queda-Redenção sobre esse filme, como na maioria de outros filmes, poderemos perceber de que maneira  esse padrão de análise nos auxilia na percepção de pontos interessantes, que podem ser extraídos a fim de que tenhamos a capacidade de perceber a “teo-referência” impressa no objeto de pesquisa, nas suas duas vertentes, tanto positiva (criação e redenção) como negativa (queda).
            No meu curso de mestrado, especificamente no módulo chamado: “Hermenêutica Cultural e Ministério Pastoral”[1],  ficou claro que esse “gabarito” nem sempre está muito bem desenhado e separado, mas - não raramente, os aspectos do referido esquema estão mesclado em muitas ocasiões, apesar de que em outros momentos  os elementos da "grade" estão bem definidos.

1.1.  Aspectos Relacionados com Criação

As cenas iniciais do filme são precedidas pela citação bíblica: “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.” (Pv. 28.1). Certamente que a referência bíblica em questão, dá o tom do enredo do filme que, como destacado nos primeiros parágrafos, tem sua temática na busca implacável e determinada de um criminoso fugitivo e, evidentemente, traz valor ao livro sagrado do cristianismo que é a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. De fato, como destaca o versículo, se verá em todo filme uma forte ênfase na necessidade de que seja aplicada a justiça. Essa é uma característica  da criação, pois desde a origem do homem, a voz do Deus Justo, ecoa dentro do coração humano, ainda que, não raramente, ele (o homem) prefira tentar calar essa necessidade de adequar-se àquilo que é correto.  O mal jamais poderá triunfar sem a devida punição, essa é uma máxima que nos remete à criação, ou seja: aquilo que é justo sempre vencerá no final, mesmo que seja somente no final escatológico, mas triunfará sempre.
Os aspectos da necessidade de valorizar o que é justo, também promove uma dimensão da solidariedade de vários personagens do filme, o que destaca o sentimento de coletividade e de sociedade, que se une em busca de um propósito. Ainda que não diretamente relacionada ao grupo, mas àquela que consegue transmitir aos demais, que a causa dela poderia se a causa de qualquer pessoa.
Outro ponto no qual se pode perceber um reflexo da criação, são as regras que intrinsecamente são evidenciadas. Tais regulamentos são trincheiras que evitam o caos em detrimento da ordem, esse último estabelecido por Deus, na criação. Mesmo o mal precisa de limites e de regras que são impostos soberanamente por Deus. A busca pela justiça, carece de preceitos implantados no coração e na mente humana, mesmo quando essa mente deseja ver o mal punido a qualquer custo. Isso se percebe no filme, quando: a) a pequena justiceira tem o firme propósito de trazer o assassino para ser julgado (a princípio, porque depois de perceber que havia uma disputa acerca de qual tribunal deveria julgá-lo, prefere ela mesma aplicar a justiça); b) para dar início à “caçada”, ela procura a ajuda da lei instituída e não de pessoas fora-da-lei; c) apesar de seu desejo de justiça, ela não considera justo que se atire numa pessoa pelas costas.
Podemos destacar, ainda, como retrato da Criação:  o forte elo familiar, que dá luz ao mandamento de honrar os pais – mesmo depois de mortos; a fé no cuidado de Deus, que a faz crer no alcance de seus objetivos e, ainda, o desejo de ver o bem do outro, mesmo que isso signifique sacrifício pessoal.
  Além disso o filme destaca, de maneira fotográfica, belas paisagens, rios, montanhas e vales que enchem os olhos com a beleza da criação, embaladas, ao fundo, por lindos instrumentais de hinos cristãos tradicionais.

1.2.  Aspectos Relacionados à Queda

A marca da queda é tangível na película em questão, que se opõem diretamente à ordem da criação, demonstrando o caos da derrota humana, frente a sua depravação total.
A contraproposta da  justiça pura é apresentada pelos retratos de covardia. Gente que mata outros por conta de poucos valores; que visa o lucro acima de tudo. Tome por exemplo no filme, o comerciante de cavalos que não se importa com a perda do outro e do “agente” da lei, que se interessa em capturar o criminoso, apenas se for pago para isso.
O senso de desagregação pode ser encontrado na história, e sua raiz se encontra no orgulho humano, comprometido apenas consigo mesmo.
Apesar da boa intensão da protagonista em fazer justiça, ficaremos com a sensação de que ela traz preocupação para sua mãe, quando desobedecendo não retorna para casa, junto com o corpo do pai.
A queda também alimenta o ódio que, por sua vez, deseja vingança a qualquer preço, tratando pessoas como se fossem mercadorias, com as quais se pode obter algum lucro. O filme ilustra esse ponto de vista por exemplo, quando o corpo de um homem enforcado é solicitado por um índio, para que ele possa conseguir algum dinheiro com o corpo, mas logo em seguida esse mesmo índio entrega o tal morto para um “dentista", em troca de algumas panelas e espelhos. O dentista, por sua vez, irá vender os dentes do morto e o resto pretende entregar para a lei em troca de alguma recompensa. É de fato uma ilustração de que o homem é profundamente  comprometido com a queda.
No fim do filme, agora já mulher adulta, Mattie Ross demonstra ser uma pessoa muito rancorosa e orgulhosa. Ela chama de “lixo” um homem que não fica em pé para recebê-la e essa linguagem, dá ao espectador uma impressão de que ela tem uma imagem distorcida de si mesma, em relação aos outros.

1.3.  Aspectos relacionados à Redenção

A frase que faz brilhar o conceito de Redenção no filme é a seguinte: “Não há nada de graça, a não ser o amor de Deus”.  Por este prisma é que podemos vislumbrar a imagem da Redenção, no enredo da história em questão.
Graça e perdão permeiam a narrativa.  Essa graça de Deus é que, em determinadas cenas, apresentam transformações pontuais, quase que imperceptíveis quando não se tem o prisma bíblico para assistir o filme. Essa graça é aquilo que faz com que um condenado, antes de ser enforcado, confesse seus erros e diz o porquê está à sombra do cadafalso. Ele avisa as testemunhas de seu enforcamento, que evitem os seus passos equivocados para não terem o mesmo trágico fim.
Noutra cena, depois de ser ferido mortalmente, um rapaz à beira da morte, também demonstra arrependimento, pedindo que avise o irmão, um pastor metodista, que eles se encontrarão na morada celeste. Graça redentora!
O amor também, de modo redentivo, pode ser percebido na misericórdia que a protagonista ainda consegue demonstrar por malfeitores, pedindo que os corpos deles sejam sepultados.  Além do que, sempre que há uma desavença envolvendo os dois homens que a acompanham, ela se coloca como apaziguadora, a fim de mantê-los unidos, sabendo que precisam uns dos outros.
A redenção leva a reconciliação e isso é o que, no fim das contas ocorre para os três principais personagens do filme.

2.     METANARRATIVA
A impressão dos irmãos Coen, na adaptação do roteiro para o cinema, retrata com precisão e arte a saga de uma pessoa, aparentemente, incapaz de conseguir o seu feito, por diversos fatores, representados pela figura de uma menina, adolescente e frágil.
Apesar de declararem que: “Tentamos em nossa versão ser totalmente fiéis ao ponto de vista de Mattie...”[2], sabemos que é impossível ser “totalmente” neutro na interpretação de qualquer obra. Assim, considerando que os irmãos Coen - judeus,  e o produtor, Steve Spilberg, também judeu, certamente foram atraídos para adaptação do livro de Charles Portis para o cinema, por conta da bravura e persistência de uma menina, que pode representar um grupo minoritário, em busca de justiça com muita resistência contra tudo e contra todos os obstáculos possíveis. Os diretores, possivelmente, olham para o livro com a perspectiva de um povo, que precisou de muita resistência para vencer seus carrascos na segunda guerra mundial, como foi o povo judeu.
Para o autor, não há esse olhar étnico, mas sim o desejo de inspirar os leitores para vencer suas limitações a fim alcançarem objetivos considerados impossíveis. Por certo que um leitor, passando por lutas e determinadas injustiças que possa enfrentar, terá a oportunidade de ver na pequena Mattie Ross, um inspiração para persistir e vencer.

3.     CONCLUSÃO
Como podemos usar esse filme para evangelização? Não há uma reposta dogmática para essa questão, mas podemos ver o filme sob o olhar da perseverança.
Sem querer forçar de modo a buscar doutrinas no filme, podemos comparar a nossa caminhada cristã contra o pecado e contra o inimigo de nossas almas, lançando mão da persistência e da dependência de Deus. Sabendo que, nessa jornada  ferrenha, poderemos perder algumas coisas (como determinadas perdas da protagonista em sua jornada), mas certamente seremos vencedores, se estivermos com a companhia correta, no caso a força do Senhor e de nossos irmãos de caminhada.



[1] Módulo do Dr. Emílio Garófalo Neto, componente da área de Missões Urbanas, do Mestrado em divindade do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper.
[2] Disponível em http://www.objetiva.com.br/livro_ficha.php?id=926, acesso em 18/06/2013

quinta-feira, 16 de abril de 2015

BRINQUEDOS HUMANIZADOS, HUMANOS ROBOTIZADOS

Por Nátsan Matias


Aguardada muito mais por aqueles pais que não tem tempo para cuidar e conversar com os filhos do que pelas crianças, a boneca Hello Barbie será a nova sensação do natal de 2015, quando ela chegará ao mercado brasileiro por algo em torno de R$ 300,00 (uma bagatela para muitos pais ausentes, que trocam carinho por presentes)
Por que ela é mais aguardada por este tipo de pais do que pelas crianças? Ora porque antigas palavras como:  papai, mamãe, quero comer, quero dormir, etc., serão substituídas por um infinito de possibilidades, com "diálogos" mais elaborados. A Hello Barbie  prometem ocupar o tempo das crianças, considerando que ela será equipada com um “computador, terá dispositivo wi-fi, microfone, alto-falante e bateria” (Folha Press)

A fabricante do brinquedo promete uma “interação” mais completa com a criança. Isso ocorrerá porque a boneca, haja vista sua conexão com a internet, poderá responder perguntas mais elaborada para as questões que as crianças levantarem e aprenderem sobre suas donas, através do levantamento de informações das redes sociais cadastradas no brinquedo.  Imaginem os variados riscos que as crianças estarão sujeitas tendo um “brinquedo” desse disposição da curiosidade delas? A Mattel, fabricante da Hello Barbie, afirma que os softwares das bonecas terão dispositivos para impedir que sejam dadas respostas prejudiciais. Você acredita que a turminha chegada em tecnologia não conseguirá burlar esses “firewalls”?  Eu também não acredito! Mas vá lá que a segurança seja mesmo impossível de ser burlada, há riscos que estão além do fato da criança ter acesso aos mais variados tipos de respostas para suas perguntas ou diálogos que empreenderem com a tal Barbie.  Não vou fazer aqui uma lista destes riscos, deixo um desafio para que você pense em alguns e enumere-os nos comentários deste post. No entanto eu quero destacar, de acordo com a minha opinião,  aquele que considero o maior dos problemas, que está para além das questões da interação  da criança com a boneca. Trata-se da troca de responsabilidades dos pais para com os filhos. É dos pais o privilégio e a prerrogativa de responder todas as perguntas de seus filhos. É dos pais o benefício de interagir, de brincar e de se relacionar com suas crianças. Debaixo de minha análise do perfil do cidadão deste século, não tenho dúvidas de que essa boneca vai fazer um sucesso absurdo, sabe por que? Porque cada vez menos os pais querem assumir o seu papel, estão ocupados demais interagindo com seus empregos, suas carreiras e com seus próprios “brinquedos” tecnológicos. Quando elas forem colocadas nas mãos das crianças, será muito mais comum entrar numa casa e não ver crianças correndo e interagindo com os pais, elas estarão em algum canto por horas a fio, conversando "sozinhas", deixando papai e mamãe assistir a novela, ver o jornal, conversar com os adultos sem interrupção. Elas não terão dificuldades com isso a princípio, sabe por que? Porque está cada vez mais comum para esses pequeninos se relacionarem com brinquedos humanizados e com humanos “tecnologizados",  que se parecem mais robôs do que gente e muito menos com pais de fato e de verdade.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

TECNOLOGIA E EVANGELIZAÇÃO NO MUNDO PÓS-MODERNO

         Por Nátsan Matias

Uma pesquisa, realizada pela Fundação Telefônica, chamada de “Gerações Interativas Brasil”, ocorrida entre os anos de 2010-11, destaca que 75% dos adolescentes brasileiros são usuários das novas tecnologias disponibilizadas pela rede mundial de computadores. Esse dado não chega a ser novidade, presumindo o que estamos presenciando na área da tecnologia da informação, porém apesar desta era digital na qual vivemos, um dado interessante da pesquisa, informa que a televisão ainda é o meio de contato com o mundo para mais de 90% das crianças e dos jovens brasileiros. A pesquisa revela que entre os programas de maior preferência dos jovens (homens 31,9% e mulheres 46,5%) estão os reality shows (A fazenda, Big Brother, Fama, Sobreviventes etc). É importante trazer essa informação a tona, considerando uma avaliação necessária, em se tratando da televisão. Uma simples “zapeada” nos canais abertos disponíveis – e em horários muito acessíveis às crianças e adolescente, perceberemos o predomínio de uma “overdose” de aspectos relacionados à queda, controlando a linha editorial de vários programas, especialmente os humorísticos. Não há dúvidas de que esse é um resultado trazido pela gritante indiferença da sociedade, também obscurecida na sua capacidade para julgar o que é bom e para rejeitar o que é claramente retrato da rebelião contra Deus.
Apesar desse quadro, há muitos aspectos nestes novos tempos de comunicação, que podem ser destacados como positivos. Não se deve negar que a tecnologia, a que temos acesso, é uma excelente ferramenta para que tenhamos melhores recursos em diversas, senão em todas as áreas do desenvolvimento humano. É óbvio, ainda, que não podemos, tamanha evolução que tais ferramentas produziram, imaginar a vida sem essas facilidades. Certamente que elas devem e podem ser consideradas como bênçãos de Deus, para que, por meio delas, tivéssemos mais capacidade e amplitude  de comunicação. Ou seja, com tais recursos disponíveis, temos melhores condições para estabelecer diálogos, antes mais difíceis - senão até impossíveis. Essas novas ferramentas tecnológicas para comunicação, são dádivas de Deus para que, por exemplo, tivéssemos mais tempo disponível a fim de realizar aquelas atividades, para as quais sempre elencamos a desculpa da “falta de horas livres”. O insuficiente tempo livre, inclusive, sempre foi, é e será a base última para frases tais como: “Infelizmente não poderei me envolver com esse ministério, porque não tenho tempo...”, ou ainda: “Gostaria de poder encontrar uma maneira de liberar mais tempo em minha agenda, quando eu conseguir isso, então serei um pai melhor, um servo de Deus melhor ou conseguirei mais tempo para viajar com minha família. Quanto eu tiver mais tempo irei àquela pescaria com os amigos. Quanto eu tiver mais tempo eu vou ter condições de discipular aquele amigo”.

Nossa visão precisa ser ampliada na direção destas oportunidades (Cl 4.5), considerando que elas disponibilizam acesso a grande percentual de adolescentes e jovens, que têm as novas tecnologias, especialmente a internet, como o seu principal meio de contato com o mundo. Pesquisas, já destacadas aqui, expõem o grande campo a ser ocupado pela criatividade cristã para falar com todas as faixas etárias, especialmente com jovens, adolescentes e crianças, através da internet e suas comodidades. Outro número relevante levantado pela pesquisa Cisco Connected Techonology World Report revela que 50% dos estudantes brasileiros preferem muito mais a interação pelas redes sociais do que pessoalmente e que a maioria dos jovens brasileiros, não conseguem dizer o que é mais importante entre a internet e gêneros de primeira necessidade, como água e comida. Revela ainda que 47% dos usuários das redes sociais, são mais felizes na vida virtual do que na real. É claro que o virtual não pode substituir o contato presencial, mas esse “mundo virtual” não pode e não deve ser ignorado ou, o que é pior, entregue covardemente aos expoentes do pensamento caído, para que eles continuem deformando o pensamento e o comportamento destas faixas etárias.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O CIDADÃO URBANO NO CONTEXTO DA ERA DAS NOVAS TCIs

Por Nátsan Matias

Quem é esse cidadão urbano do século XXI, especialmente o cidadão urbano brasileiro, porém global, exatamente por conta das pontes tecnológicas que fizeram diminuir distâncias antes não tão fáceis de serem diminuídas? A princípio vamos enumerar as principais características que mais claramente se pode perceber pela leitura do sinais que mais evidentes. Esse cidadão urbano é especialmente imediatista. É, ainda, excessivamente interessado na possibilidade de prolongar a vida pelo maior tempo possível, haja vista que não possui certezas absolutas quanto à realidade espiritual do homem, temendo, assim, a morte. Como consequência, ele é, também, religiosamente eclético, fortalecido pelo pluralismo do pós-modernismo, no qual, as diversas fontes da religiosidade são expressões  das variadas “verdades válidas”. Neste mesmo mote, pode muito bem rejeitar conceitos e questões que indiquem verdades absolutas, rejeitando quaisquer  ideias da existência de Deus, como ele é descrito na Bíblia. O cidadão urbano é um indivíduo assombrado pelo medo da violência, que se propaga como uma doença nas cidades. Ele é hedonista, elegendo o prazer como seu direito irrevogável. É consumista, mesmo além de suas possibilidades orçamentais: “Consumismo, individualismo, imediatismo, exibicionismo parecem ser as molas mestras de um enorme apassivamento social, banhado em satisfação a ser comprada.”(1)  É dependente das novas tecnologias de informação e comunicação. Por conta da explosão de dispositivos de captura de imagens, que podem compartilhar em tempo real os eventos do cotidiano, tornando-o testemunha ocular da realidade, paulatinamente, esse cidadão se torna mais desconfiado daquilo que lhe diz os meios de comunicação, em relação as informações jornalísticas; porém é, contraditoriamente, muito acessível aos ditames comportamentais da mídia de entretenimento. Estas são algumas das características do cidadão urbano, no entanto, há outras que poderiam ser enumeradas, a partir de outro ponto de abordagem  temática. (...) Os perfis em questão estão intimamente vinculados aos “inserts” das tecnologias da comunicação e informação no cotidiano desse cidadão urbano, especialmente do jovem cidadão, haja vista que “Tecnologia podia ser o nome dessa geração. E a razão é simples: tecnologia não é um capítulo na vida desse jovem, é a obra inteira”(2). Em outras palavras, tais aspectos poderiam passar despercebidos há alguns séculos, mas hoje são especialmente marcantes, quanto à identificação deste cidadão urbano. Entre eles, estamos nós todos. Não resta dúvidas de que em menor ou em maior grau, algumas destas peculiaridades  estão presentes na formação da minha e também da sua identidade como cidadão do século XXI.
(Trecho do livro Conec(ten)tados)
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1 - FONTES, Virgínia. Desmonte dos valores – A humanidade se dilui no shopping. Revista Caros Amigos – Especial Males do Mundo, São Paulo: Casa Amarela, Ano XVI, n. 57, p. 30, 2012.


2 - CALLIARI, MARCOS; CALLIARI MOTTA. Código Y - Decifrando a Geração que está
Mudando o País. 1ed. São Paulo: Editora Évora, 2012.